Quando me mudei para SP, há quase 14 anos, eu dependia do Guia da Folha pra viver. Mal conhecia e mal sabia sair do caminho casa-trabalho-casa, e o Guia me ajudava a saber o que era mais legal na cidade no momento e como planejar o que comer, quanto gastar, qual filme ou show assistir.
Cheguei a colecionar algumas edições especiais, com listas de “Os X restaurantes econômicos para conhecer na Liberdade”, “Desvende Pinheiros em 10 bares”ou algo do gênero. Não existiam os famigerados digital influencers e nem era moda fotografar o prato de comida, o drink ou coisa que o valha (ô saudade). Então aquele caderninho encartado no jornal era a promessa de um final de semana com opções que cabiam dentro do meu desejo e do meu bolso.
Quando comecei a trabalhar na Paulista, no coração da avenida, aí me esbaldei. Tinha programa pra todos os gostos: cinema alternativo, mostra de filmes, bar fino e copo sujo, teatro de rua, e tudo que eu podia imaginar. Foi quando passei a amar essa cidade, mais do que sentir raiva dela no ônibus cheio em dia de chuva e janelas fechadas e sem ar (alô, coronavirus?).
Conheci meu marido na Paulista e ele também amava os guias, e preferia o da Folha também. Sentávamos na hora do almoço de sexta, os dois com seus guias na mão, já rabiscados com o que cada um achava que seria a aposta do dia. Saíamos do trabalho juntos e emendávamos nosso programa favorito: cinema na Augusta, um oi pros amigos no happy hour e depois jantar em algum beco indicado pelo guia – de preferência ainda desconhecido por nós.
Hoje, em quarentena em SP há 90 dias, com dois babies pequenos, eu e meu marido nos cruzamos o tempo todo no corredor, enquanto recolhemos brinquedos das crianças. Nossa programação mudou, e estamos juntos em casa o tempo todo, mas sinto saudade dele, de andarmos pela rua, escolher um filme e um restaurante novo.
Mas minha crônica não era sobre isso, gente. Ia dizer que o marido comentou que o Guia da Folha estava adaptado a uma versão mixuruca online por conta da quarentena – e que tem também um pedacinho na versão impressa às sextas-feiras, just in case.
Pessoas trancadas em casa, restaurantes fechados, não há o que guiar as pessoas, certo? Errado, ainda que haja poucas pautas e o quê relatar, o guia tem publicada umas ideias bacanas de deliveries e receitas. Está longe de ser o que tem na versão impressa, mas olha que roteiro legal: Saiba onde pedir delivery de comida e bebida no centro de SP. Mas confio que em algum momento, quem sabe não muito distante – vamos poder retomar as ruas, passear pela Paulista, achar um novo restaurante novo. Ai que saudade.
E se você quer um pouco de esperança de que isso vai acontecer, leia a coluna da Ale Forbes na Folha. Vale a pena sonhar ne?